Produtos como termômetros e esfigmomanômetro que usam a substância vêm perdendo
mercado ano a ano. Instituições que optaram pelos aparelhos digitais recomendam
a prática
Por ser um material tóxico, o uso de mercúrio na indústria gera debate acerca
dos riscos de contaminação. No caso da área de saúde, produtos como termômetros
são o principal alvo. Apesar de não haver uma proibição formal, muitas
instituições de saúde estão paulatinamente substituindo itens que contenham
mercúrio por versões digitais. Entretanto, o principal empecilho para a troca
ainda é o preço, pois um modelo digital custa, em média, de duas a quatro vezes
mais que uma de mercúrio. Outros produtos também são alvo de críticas, como os
esfigmomanômetros e aqueles que utilizam amálgama em sua composição.
Para se ter uma ideia da atualidade do tema, em novembro deste ano, a Secretaria
de Estado da Saúde de São Paulo proibiu que hospitais, ambulatórios e outras
instituições de saúde públicas do Estado comprem aparelhos que contenham
mercúrio. A medida impede que tais estabelecimentos adquiram dispositivos de
medição de temperatura ou pressão que contenham a substância, o que abrange
termômetros, esfigmomanômetros e similares. No caso do uso odontológico, a
aquisição de mercúrio será permitida apenas se pré-dosado e pré-acondicionado em
cápsulas seladas. As instituições têm até 2012 para se adequarem à medida.
A decisão vai ao encontro de uma petição assinada por 38 entidades das áreas de
saúde e meio ambiente e entregue à Anvisa, que exigia a proibição da fabricação
e comercialização dos aparelhos com mercúrio. A petição cita considerações do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), favorável ao banimento
da substância, além de considerar uma pesquisa financiada pelo Ministério do
Meio Ambiente da Alemanha sobre a presença do material em países em
desenvolvimento. De acordo com a pesquisa, 83% dos hospitais e consultórios no
Brasil ainda utilizam termômetros de mercúrio.
POSIÇÃO DA ANVISA
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o mercúrio
presente nos termômetros clínicos e nos aparelhos para medição de pressão
arterial com coluna fechada não entra em contato nem com o paciente nem com o
operador, o que elimina o risco de contaminação. Ainda segundo a Agência, não há
possibilidade de dispersão no ar, visto que a substância está confinada.
No entanto, a maior reclamação de entidades ambientais está no descarte do
material e nos possíveis danos causados após a quebra acidental do medidor.
Nesse caso, a Anvisa esclarece que os produtos trazem instruções que orientam os
consumidores sobre o uso correto e a prevenção de acidentes. Em relação ao
descarte, a destinação final dos termômetros no âmbito doméstico é de
responsabilidade do poder público municipal. Já nos serviços de saúde, o
descarte é bem controlado e deve seguir determinadas exigências.
Embora apresente essa posição, a Anvisa acompanha de perto as ações de países
que adotaram medidas mais radicais de proibição da fabricação e comercialização
desses produtos. “Essa decisão apenas se justificaria se amparada em evidências
que demonstrem a necessidade da retirada imediata do mercado, ou seja, caso o
uso normal do termômetro acarretasse risco superior ao benefício advindo da sua
utilização, ou na ocorrência de acidentes frequentes, demonstrando que as
medidas de proteção e advertências são ineficientes. Até este momento, o
termômetro clínico com mercúrio não se enquadra em nenhum desses critérios”,
esclarece Igor Valim Ferreira, porta-voz da Anvisa.
Outros produtos de uso médico com mercúrio já foram proibidos por se enquadrarem
nas duas situações descritas por Ferreira: o emprego normal oferecia grande
risco ao usuário e ao operador e a ocorrência de acidentes era frequente. “É o
caso dos aparelhos artesanais para mensuração de pressão arterial invasiva com
utilização de coluna de mercúrio em sistemas abertos, que tiveram seu uso
proibido em todo território nacional por causa do risco de dispersão no
ambiente”, completa.
Mesmo sem a proibição, há um movimento natural de redução desses produtos no
mercado. O porta-voz da Anvisa enfatiza que praticamente não há termômetro à
base de mercúrio fabricado no Brasil e os importados somam apenas sete produtos.
Por sua vez, os termômetros digitais já somam mais de 40 itens. “A variedade de
marcas à disposição aumenta cada vez mais, reduzindo os preços”, acrescenta
Ferreira.
BONS EXEMPLOS
No Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), em São Paulo, a substituição de produtos
com mercúrio por versões digitais foi iniciada em 2004 com os esfigmomanômetros
e terminou em 2009 com a substituição dos termômetros. “O que nos motivou foi a
preocupação com a sustentabilidade ambiental e a saúde ocupacional, além do
cumprimento de legislações internacionais, onde já há a proibição”, conta Maria
Amélia de Araújo, engenheira de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente da
entidade.
Para facilitar esse trabalho, ela conta que o setor de Padronização de Materiais
do hospital fez um trabalho antecipado em conjunto com as áreas de Segurança do
Trabalho e Meio Ambiente, Controle de Infecção Hospitalar e Engenharia Clínica,
procurando no mercado o produto que atendia a todas as necessidades e exigências
legais. “O mercúrio é um metal líquido, prateado, tóxico. O vapor da substância,
que é invisível, ao ser inalado em grandes quantidades pode causar intoxicação
aguda com quadro de pneumonia química, alterações no sistema nervoso, no
aparelho digestivo, nos rins. Enfim, faz muito mal à saúde e prejudica o meio
ambiente, contaminando o solo e consequentemente o lençol freático, peixes,
plantas, e o ser humano”, ilustra.
Após vencer todas as etapas de substituição, Maria Amélia é enfática ao dizer
que o esforço vale a pena. “No começo, o custo para trocar parece alto, mas
fazendo um plano de ação esse valor é facilmente absorvido, sem contar os ganhos
em relação à saúde do trabalhador e à imagem do hospital. As instituições de
saúde que não se envolverem com sustentabilidade, com certeza perderão mercado”,
sentencia.
Outras instituições também já adotaram a prática, como o Hospital Bandeirantes,
o Hospital Israelita Albert Einstein, o Hospital Geral de Pedreira e a Santa
Casa de Piracicaba.
MAIS EXEMPLOS
Um dos materiais dentários restauradores mais utilizados na odontologia, o
amálgama também apresenta riscos no uso e em sua destinação final. Por conter
mercúrio, a Federação Dentária Internacional (FDI) emitiu, em outubro 2007, uma
declaração sobre o assunto alertando quanto ao efeito potencial da substância
sobre cada paciente, pessoal auxiliar e o meio ambiente.
Em maio deste ano, o Walmart Brasil suspendeu a venda dos medidores de mercúrio
em todas as suas farmácias próprias. Para incentivar a comercialização da versão
digital, um acor do da rede com a indústria possibilita a venda do produto por
um preço mais baixo que o praticado no mercado. Os termômetros de mercúrio
recolhidos nas mais de 260 farmácias do Walmart foram encaminhados para uma
empresa especializada nesse tipo de coleta.
MERCADO
Para atender à demanda de um produto menos nocivo, diversos fornecedores do
mercado passaram a oferecer em sua linha versões sem o uso de mercúrio.
É o caso da Instrutherm especializada em equipamentos de medição. No
entanto, ainda fornece versões de vidro com mercúrio, que, segundo José Nunes,
técnico da empresa, em breve não farão mais parte do portfólio. “A maior parte
dos instrumentos comercializados já é digital, pois possui boa resistência e não
causa impacto tão significativo ao meio ambiente quando descartada. A demanda
pelos termômetros de mercúrio diminuiu. Além de não quebrar, o modelo digital
facilita a medição e a interpretação dos resultados”, relata Nunes. A empresa
oferece também modelos para monitorar a temperatura do ambiente, com o objetivo
de verificar se condiz com o clima ideal para o paciente, que podem ser usadas
também durante o transporte e conservação de vacinas e outros medicamentos que
necessitam de refrigeração constante.
A Incoterm também possui uma linha voltada para o controle de temperatura
e umidade, bem como modelo de termômetros clínicos.
Uma outra opção interessante no mercado são os chamados termômetros
descartáveis. Uma das fornecedoras da área é a empresa
Ceibra. Porém, o produto ainda não está sendo comercializado pela companhia pois aguarda aprovação da Anvisa.
Também são fornecedoras da área as empresas
Glicomed e a Geratherm.
Fonte: Revista HOSP
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