Os termômetros tradicionais, feitos com mercúrio, sempre tiveram espaço nos
armários de remédios. Ao primeiro sinal de febre, é instrumento a que muitas
mães recorrem para confirmar a temperatura dos filhos. Mas, de acordo com a
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), esta realidade está mudando.
ONGs pedem que Anvisa
proíba termômetros de mercúrio
Hospitais de SP
substituem termômetros
Segundo balanço da agência, atualmente não há nenhum termômetro à base de
mercúrio fabricado no Brasil e os importados somam apenas sete modelos. Já os
termômetros digitais, livres do material, contam com 40 registros.
Quando o aparelho se quebra, o mercúrio é liberado junto com pequenas esferas
metálicas contaminadas, que podem provocar, por exemplo, pneumonia. Em níveis
maiores, pode haver danos ao sistema nervoso central e, uma vez inalado, não é
eliminado pelo organismo.
A situação informada pela Anvisa pode parecer confortável para quem é contra
este tipo de produto, mas não representa o entendimento de entidades. Nesta
semana, inclusive, houve um endurecimento na pressão pela proibição destes
termômetros.
Uma petição assinada por 38 entidades das áreas de saúde e meio ambiente foi
protocolada na quarta-feira (19) no gabinete do presidente da
Anvisa, exigindo que o órgão proíba a fabricação, comércio e uso dos aparelhos.
A petição cita considerações do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente) favoráveis ao banimento do mercúrio. As entidades também se basearam
nos resultados de uma pesquisa financiada pelo Ministério do Meio Ambiente
alemão sobre a presença do material em países em desenvolvimento.
No Brasil a pesquisa foi feita em Curitiba (PR), onde foi constatado que a
maioria dos hospitais e consultórios ainda utilizam termômetros de mercúrio,
apesar dos profissionais reconhecerem que o material oferece risco à saúde. A
principal justificativa apontada foi o preço. A pesquisa consultou farmácias e
encontrou termômetros tradicionais por um preço médio de R$ 5,56 --os
alternativos custavam entre R$ 9,80 e R$ 17,95.
Zuleica Nycz, coordenadora da Apromac (Associação de Proteção ao Meio Ambiente
de Cianorte-PR) e uma das responsáveis pela parte brasileira da pesquisa,
assinou a petição e diz que é "um contrassenso ser possível comprar um
termômetro de mercúrio e levar para casa, pois as pessoas não são informadas dos
riscos. Isso é muito sério, a gente entende que a Anvisa precisa tomar uma
decisão."
A Anvisa afirma que todos os termômetros registrados trazem "advertências que
orientam os consumidores sobre o uso correto e a prevenção de acidentes" e que
desde 2007 o setor de vigilância do órgão não recebeu nenhuma notificação de
acidente ou contaminação.
Para Nycz, porém, os termômetros quebram muito facilmente e não trazem todas as
informação. "As crianças brincam com aquelas bolinhas prateadas e entram em
contato com um material tóxico. Existe uma série de medidas que devem ser
tomadas, como se fosse um acidente químico. Quando acontece numa fábrica, existe
todo um aparato, mas quando as pessoas quebram um termômetro dentro de casa,
acham aquilo bonito."
De acordo com a Anvisa, os termômetros com mercúrio são avaliados por norma do
Inmetro antes de serem colocados no mercado. "Esses produtos ainda são usados em
países como Estados Unidos e Canadá. Medida mais radical, como a proibição da
fabricação e comercialização, apenas se justificaria se amparada em evidências
da ocorrência de acidentes frequentes, demonstrando que as medidas de proteção e
advertências são ineficientes."
Além da proibição, a petição propõem a criação de um programa de substituição
dos termômetros com o recolhimento dos aparelhos. "A gente entende que é
possível que o governo consiga baixar os preços dos termômetros sem mercúrio a
partir do momento que ele proibir e fizer um plano de incentivos", afirma Nycz.
A Anvisa diz perceber "uma substituição mercadológica por termômetros digitais,
cuja variedade de marcas à disposição do consumidor aumenta cada vez mais,
reduzindo os preços".
A coordenadora da Apromac diz que o Brasil faz parte do conselho diretivo do
Pnuma, e participa dos debates para um tratado internacional para banir o
mercúrio. "Se o governo concorda [com as disposições do Pnuma] e participa da
construção do tratado, é importante que também tome medidas dentro de casa. É
uma questão de coerência".
Em junho, o Pnuma realiza na Suécia a primeira reunião do tratado sobre
mercúrio.
Fonte: Folha de São Paulo
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